CULTURA VIVA E A PARÁBOLA DO SALÃO DE BAILE

CULTURA VIVA E A PARÁBOLA DO SALÃO DE BAILE

 

O Baile -Ettore Scola – Um salão de baile em Paris. Ao longo de 50 anos, o salão vai sendo testemunha da História, das alterações políticas, das tendências culturais e da música que se vai impondo..

A parábola de Joe Arcuckle – Salão de Baile –  diz como um líder aconselha os membros de sua comunidade dizendo que um capital modesto foi auferido com o trabalho duro realizado e que deveriam pensar em investi-lo para seu próprio bem: uma igreja, uma escola, um hospital, talvez? A comunidade encarrega seus anciãos de pensarem a respeito e comunicarem o seu conselho. Depois de considerarem com calma, eles voltam com a resposta: deveríamos construir um salão de baile. Um salão de baile? Sim, porque num salão de baile nós nos reunimos e, na alegria e celebração, iremos redescobrir um ao outro e em cada um enxergaremos nossa razão de ser. O salão de baile é um símbolo poderoso da orientação do mundo globalizado. Afora salientar os valores imensuráveis do espírito-alegria (afinal, eles podiam ter investido num fundo de ações), este símbolo enfatiza o reconhecimento dos laços humanos, da necessidade de responsabilidade mútua e do valor da cultura. *

Estamos jogando na lata de lixo a possibilidade real de darmos o salto estético na Cultura Viva. Um dos ultimos movimentos do Cultura Viva oferecia bolsas para artistas conhecerem outros Pontos de Cultura e lá criarem, não obras de arte estáticas, para serem exibidas nos salões e galerias, mas estabelecer vínculos de afeto, amizade, instalações e melhorias para as comunidades que orbitam ao redor dos pontos de cultura. Um investimento humano que faz crescer por ser compartilhado e transformado em variações de multiplicidade.  Necessitamos urgentemente uma nova sessão de Do-In a nos conectar novamente com quem de fato somos. O Cultura Viva necessita de um novo impulso que nos inclua no espectro da alegria, dos sabores existenciais, de modo a florescer um novo sentido aos pontos, pontinhos, pontões.

 

 

 

 

 

 

 

 

Mauricio Adinolfi – Cores no Dique, Premio Interações Estéticas em 2009, 2010 e 2012 – Cultura Viva –  Ministério da Cultura.

O MinC tem a responsabilidade de apontar um reconhecimento de valores que não podem ser apenas expressados em dinheiro das Leis aprovadas, apanhado de novos cargos, grupos de trabalho, comissões e tarefas burocráticas para atender e justificar a própria maquina interna de pequenos poderes. O mais importante é o investimento humano, este sim! pode ser partilhado, crescer em ricas variações de multiplicidade, oferecer elementos se encaixam justamente nas necessidades do indivíduo, nas necessidades do momento presente. “O Cultura Viva é, sobretudo, uma política pública de mobilização e encantamento social. Mais que um conjunto de obras físicas e equipamentos – (e editais da LPG e LAB II), implica a potencialização das energias criadoras do povo brasileiro. (para essa potencialização não é necessário dinheiro). Não pode ser considerado um simples! “deixa fazer”, pois provém de uma instigação, de uma emulação, que é o próprio do-in antropológico.” **

Mecanismos de repasses de recursos aos Estados e Municípios para que estes possam atender os fazedores de cultura, sem dúvida, além de importantes, são necessários e promovem maior eficiência, mas sem abandono dos conceitos que materializaram o Cultura Viva e o transformaram em Lei Federal.  O salão de baile é um símbolo poderoso da orientação, afora salientar os valores imensuráveis do espírito-alegria. Hoje não encontramos esses valores no MinC – ao que parece, estão muito mais preocupados na construção de um “Estado Burocrático” para monitorar os repasses de recursos aos Estados e Municípios, e suas trocas de favores entre si. A sociedade, aos pontos, aos fazedores de cultura, oferecem os futuros editais oriundos das Leis, como se apenas o dinheiro – claro necessário e dever do Estado – mas não só. Ao Ministério da Cultura cabe os conceitos, os recursos, o acompanhamento, a articulação institucional, aspectos vitais abandonados pelos novos responsáveis pela cultura que insistem em não ouvir os seus criadores.

Por detrás da cortina da LPG e LAB II, nos apresentam um emaranhado impositivo de ações, pouco estão interagindo com os pontos de cultura, a cada dia, mais e mais se distanciam do conceito originário de Gestão Compartilhada e transformadora, empoderamento, autonomia e protagonismo social. Estão encastelados em busca de uma nova ordem burocrática. Estimada Margareth Menezes, nos convoque a todos para uma conversa sincera!

 *Fonte: Jan Kuypers > Revista da aldeia humana – pagina 28 (organizado por Alexandre Manu; tradução Fernando Vugman; revisão Cláudio Dutra – Florianópolis: SENAI/LBDI,1995

**Pronunciamento de Gilberto Gil sobre o Programa Cultura Viva, Berlim, Alemanha, 2 de setembro de 2004 
Imagem de capa> Ilustração de Henfil 

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