RELICÁRIO DE AFETOS – HISTÓRIAS DOS PONTOS DE CULTURA
Estimada Margareth Menezes, Exma. Ministra da Cultura,
Esta missiva relata que somos um grupo de professores, pesquisadores, fazedores de cultura, um coletivo informal comprometido com o Programa Cultura Viva. Esse grupo se se formou ao redor da ferramenta wataspp e cresceu exponencialmente somando atualmente aproximadamente 600 a 700 participantes. Foi criado em adesão ao projeto de REENCANTAMENTO DO BRASIL do colega Célio Turino. Naquela oportunidade – ainda no governo de transição manifestamos nosso apoio e o desejo de continuidade do Programa Cultura Viva, por meio do projeto em tela. Essa carta aberta foi encaminhada a equipe de transição por meio do gabinete do Ricardo Berzoini e Gleisi Hoffmann, anexadas nela várias histórias e relatos de pessoas que sobrevivem em seus Pontos de Cultura. Passado alguns dias, soubemos por meio da imprensa da sua indicação para assumir a reconstrução do Ministério da Cultura, motivo de esperança do verbo esperançar do educador Paulo Freire foi renovado. Essa correspondência cujo teor reproduzimos abaixo, foi encaminhada ao e-mail da sua produtora.
À
Futura Ministra da Cultura
Exma. Sra. Margareth Menezes
Nós, abaixo-assinados, saudamos a sua nomeação para estar à frente da reconstrução do Ministério da Cultura e nos colocamos entre os que desejam toda a sorte e sucesso na difícil, porém imprescindível, empreitada.
Pertencemos à uma espécie do coletivo que ou viveu intensamente a efervescência, pujança e potência do programa Cultura Viva ou, na condição de pensadores culturais, compreendemos a sua inesgotável capacidade de dialogar com a democratização das políticas culturais e seu papel fundamental na construção de um olhar menos técnico, tecnicista, burocrático, e mais generoso, poroso e afetuoso das diversas instâncias do Estado com a sociedade de maneira geral, a partir da compreensão antropológica de ser a Cultura a única atividade política capaz de ser transversal com todas as demais áreas das políticas públicas.
O Cultura Viva, a partir dos Pontos de Cultura, foi capaz de colocar o governo brasileiro em comunhão com o povo brasileiro de uma maneira que, talvez, encontre inspiração e similaridade – ressalvadas todos os contextos e particularidades – com o futebol.
Há hoje um relicário de afetos em ebulição cultural, muito em função de todas as ações, programas e projetos que o Cultura Viva fez chegar em lugares jamais imaginados do nosso país. A diversidade cultural brasileira, em nenhum outro momento, pode ser tão reconhecida, legitimada e fomentada pelo estado brasileiro como no período em que Pontos, Pontinhos, Pontões, Tuxáuas, Aretés, Griots, Interações Estéticas, Agentes Cultura Viva, etc., tiveram possibilidade de transformar suas ações, no mais das vezes isoladas, em um exercício coletivo de atuação em rede, em teias que interligavam pessoas, territórios, aldeias, etnias, cidades, linguagens, ética e estética.
Coincidem, em certa ordem cronológica, o descaso com o Cultura Viva e o processo destrutivo da nossa Democracia. Decerto que uma coisa não está, em razões e graus de importância, ligada umbilicalmente à outra, mas é de toda ordem e necessidade traçar uma linha divisória entre o que foi e o que poderia/deveria ter sido feito com o nosso país. Indubitável que a guerra cultural deflagrada foi determinante para colocar a sociedade brasileira e suas instituições em um estágio dolorido de fragilidade. Fazemos parte dos que acreditam que o passivo do Cultura Viva teria sido um forte aliado nesta guerra.
Assim como, para além do passivo que remete às memórias, inclusive as afetivas, há uma utopia clamando no horizonte. Cerzir nosso esgarçado tecido social e reconstruir as bases democráticas que nos fortaleçam enquanto povo e país passam, inevitavelmente, pelo nosso reencontro com o Ministério da Cultura. Com que alívio, prazer e esperança nos dirigimos à Vossa Excelência, digníssima ministra!!!
Por favor, coloque um farol nos caminhos – passado e futuro – do Cultura Viva. Que este farol possa iluminar a consciência de que não podemos seguir perdendo riquezas, sejam elas tangíveis ou intangíveis, materializáveis ou simbólicas. O programa Cultura Viva já possui, inclusive, arcabouço legal, transformado na lei 13.018/2014. Ou seja, não é só mais uma lei. Trata-se da Política Nacional de Cultura Viva.
Fazemos aqui, ministra, não o papel de lobistas, mas o de operários culturais conscientes da importância de um programa, de uma lei, de uma política nacional justa, humana, eficiente, eficaz, democrática. A Cultura Viva, certamente, haverá de ser uma fiel e forte companheira de sua difícil jornada: a de estar à frente desse ministério que, talvez, seja o mais urgente e necessário para o país: o Ministério da Cultura.
Cordial e afetuosamente.
Grupo Cultura Viva 2023-2026 – grupos I, II e III
Um dos nossos colegas de grupo faz questão de incluir sua manifestação nesta missiva. Ele escreve a seguinte mensagem: “As políticas são desenvolvidas por pessoas atendendo os interesses de grupos. Agora que estamos em transição democrática de um governo necrófilo de coalizão democrática a reconstrução da casa combalida pelos maus tratos recebidos pela pior administração nunca antes exercida. Pessoas certas nos lugares certos é fundamental.
Espero que o novo governo não esqueça o nome de Célio Turino, criador do mais inclusivo programa de políticas públicas: Os “Pontos de Cultura e suas teias”. Vou propor na UNESCO uma grande teia universal. Não há porque o Brasil não retome imediatamente esse projeto revolucionário. Farei um filme sobre o tema para que o mundo entenda sua importância. Enquanto isso o Brasil recomeça imediatamente para recuperar o tempo perdido, quando uma geração foi privada por um governo necrófilo de usufruir das redes dos “Pontos de Cultural”. Com esse programa posso dizer que Célio Turino é o Paulo Freire contemporâneo.” Silvio Tendler – cineasta.
Continuamos compromissados buscando espaços e ferramentas que auxiliem os Pontos de Cultura, principalmente no que tange a inadimplências que atinge grande parcela dos Pontos de Cultura espalhados pelo país. São centenas de entidades que se tornaram inadimplentes por conta de um decreto de 31 de outubro de 2011. Conforme entendimentos de juristas, passado dez anos esta situação já prescreveu e é possível resolver esta situação com uma Declaração de Ofício de Prescrição editada pelo Ministério da Cultura.
Na qualidade de Secretário-Geral do Instituto Iddeia Cultura e Pesquisa, entidade sem fins lucrativos, também Ponto de Cultura, aderimos de imediato as propostas de REENCANTAMENTO do Brasil, dada a homenagem ao querido Sérgio Mamberti colaborador do Instituto Iddeia desde sua criação, assim como Tadeu di Pietro, João Acaiabe, Roberto Martí entre outros companheiros associados a iddeia de um país justo e solidário, e também soma esforços para tornar realidade a edição desta Declaração de Ofício de Prescrição, de modo a renovar a esperança e bem estar de centenas de Pontos de Cultura.
Em nome dos grupos
Afetuosamente
Cultura Viva 2023-2026
Grupo I, II e III
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